Otro oportuno artículo del ingeniero José Carlos Barbosa traemos aquí, sobre la barbaridad que en relación al servicio ferroviario acaban de...
Otro oportuno artículo del ingeniero José Carlos Barbosa traemos aquí, sobre la barbaridad que en relación al servicio ferroviario acaban de perpetrar en Coimbra... No solo se cargaron una línea de tren hace unos pocos años con las afueras de la ciudad para poner autobuses articulados en su lugar... es que ahora se han cargado otra línea de tren (la que unía esta estación de la foto, en el centro de la ciudad, con la estación general que está en las afueras). Y claro, como no les llegaba, se han cargado esta estación en pleno corazón de la ciudad. ¡Qué locura!Falo-vos hoje com o coração: perdemos mais uma estação central, e com isto, o país empobrece. Acompanhei pelas redes sociais a despedida do último comboio a partir da estação de Coimbra, acompanhado por dezenas de defensores da ferrovia. Queriam preservar a memória dessa última viagem, mesmo sabendo que a batalha estava perdida. Frustrados por perderem esta luta… No entanto, nesta luta não há vencedores, apenas derrotados: perderam os defensores da ferrovia, perdeu Coimbra, perdeu o país.
O encerramento da estação histórica, com cerca de 140 anos, marca o fim de uma era na cidade dos estudantes. Em breve, será substituída pelos autocarros do Metro Mondego. Este momento leva-me a uma reflexão: alguns dirão que falo com emoção por ser apaixonado por comboios, outros concordarão comigo, e haverá quem discorde, defendendo os autocarros a pilhas (BRT) como o futuro.
Durante décadas, os comboios revolucionaram a vida das pessoas. As estações representavam o coração das cidades, polos geradores de tráfego, tudo crescia ao redor das estações. As empresas ferroviárias mais visionárias compreenderam a importância de rodear estas infraestruturas com empreendimentos imobiliários, cujos rendimentos são reinvestidos para melhorar o serviço, equilibrar contas, reduzir preços e expandir a infraestrutura, tornando o transporte ferroviário mais competitivo.
Em Portugal, temos exemplos contrastantes. A Estação de São Bento é uma referência de mobilidade e turística, mas há quem critique a localização das estações centrais, considerando que as linhas dividem a cidade e dificultam o acesso à zonas ribeirinhas. Infelizmente, na Alta Velocidade há quem arregace as mangas para fazer asneiras, soube recentemente que a futura estação de alta velocidade de Braga será construída fora do centro urbano e desligada da rede convencional, repetindo erros cometidos em Espanha, como no caso de Tarragona.
Entre as décadas de 60 e 70, o comboio perdeu protagonismo para o automóvel, cuja popularização trouxe rapidez e flexibilidade à mobilidade. O forte investimento em estradas e o desinvestimento na ferrovia tornaram o comboio cada vez mais lento e irrelevante. A degradação das infraestruturas ferroviárias e a falta de renovação do material circulante agravaram o problema. No entanto, os japoneses revolucionaram o setor nos anos 60 com o Shinkansen, seguidos pelos franceses, que introduziram o TGV nos anos 80. Estes avanços tornaram o comboio novamente competitivo, inspirando países como Alemanha, Itália, Espanha, Coreia do Sul, China entre outros a desenvolver as suas próprias redes de alta velocidade.
Já o crescimento das cidades, obrigou a uma redefinição da mobilidade urbana exigindo investimentos em linhas de metro e reforço das linhas urbanas de comboios. Em Portugal, o Fundo Ambiental deveria financiar esta transição com mais comboios e sistemas ferroviários modernos. Contudo, a moda do metrobus parece ter-se instalado. Os seus defensores acusam os críticos de serem “fanáticos por comboios” que ignoram os custos. A realidade, no entanto, é outra: muitos projetos de metrobus falharam, e os países que investem a sério em mobilidade dão prioridade ao transporte sobre carris, devido à sua velocidade, capacidade, conforto e eficiência a longo prazo. Talvez o metrobus funcione em cidades como Bogotá, onde não há alternativa, mas por aqui será um fracasso anunciado.
Coimbra perdeu o comboio, perdeu mobilidade e está a perder relevância. O fim da ligação ferroviária apenas aprofundará essa perda. Só o tempo dirá quem tinha razão.
O Futuro é o comboio!
JOSÉ CARLOS BARBOSA
Foto do Nuno Cortesão