Por José Carlos Barbosa , ingeniero experto en temas ferroviarios. Da Propaganda à Realidade O Ministério das Infraestruturas e Habitaçã...
Por José Carlos Barbosa, ingeniero experto en temas ferroviarios.
Da Propaganda à Realidade
O Ministério das Infraestruturas e Habitação anunciou recentemente, com grande entusiasmo, um reforço no serviço da Fertagus na margem sul. Declarações como:“Mais frequência de comboios e mais lugares disponíveis representam ganho de tempo diário.”
“A oferta entre Lisboa e Setúbal é largamente melhorada, tanto nos dias úteis como aos fins de semana e feriados, com comboios de 20 em 20 minutos durante todos os dias.”
Foram amplamente divulgadas, prometendo um crescimento de 73% nos lugares oferecidos em dias úteis e 172% aos fins de semana.
À primeira vista, parece um passo ambicioso e positivo, mas quem conhece a operação ferroviária percebe rapidamente que algo não bate certo. Sem qualquer aquisição de novos comboios para a Fertagus, como seria possível aumentar a frequência?
A resposta é simples: reduzindo o número de comboios em dupla e limitando as reservas operacionais, o que aumenta a pressão sobre a manutenção. Para quem, como eu, trabalhou numa oficina ferroviária garantindo uma disponibilidade de 92%, é fácil prever o impacto desta decisão. A margem para falhas torna-se mínima e a operação começa a caminhar sobre um fio de navalha.
Os problemas não tardarão. Faltará material circulante, atrasos tornar-se-ão mais frequentes e os utentes sentirão as consequências desta gestão “política”. Para aumentar a frequência até Setúbal, reduziram-se os comboios em dupla nas horas de ponta, diminuindo o número de lugares disponíveis no troço com maior procura. Ou seja, em vez de melhorar o serviço, as alterações criam novos problemas, como a sobrelotação nos troços mais movimentados.
Além disso, o aumento da frequência traz consigo maior pressão sobre a manutenção e uma redução das reservas operacionais. Quando o material circulante começa a faltar, a consequência é a supressão de comboios, afetando diretamente os utentes.
A notícia da RTP, “Empurrões e PSP formam quadro na margem sul para apanhar comboio”, expõe bem a realidade: “Apesar de a empresa passar a disponibilizar mais viagens entre Lisboa e a margem sul, de 20 em 20 minutos, continuam a surgir queixas de passageiros que dizem que não conseguem apanhar o comboio, devido à redução do número de carruagens.”
Este cenário mostra como o aumento da frequência foi conseguido à custa de uma diminuição da capacidade nos troços com mais passageiros. Entre as 7h e as 9h59, na travessia da ponte no sentido sul-norte (Pragal-Lisboa), reduziram cerca de 5000 lugares.
O resultado? Utentes frustrados, empurrões nas plataformas e uma operação que já dá sinais de colapso.
Infelizmente, este anúncio do Ministério parece mais uma peça de propaganda do que uma solução sustentável. Vende-se um progresso ilusório que, na prática, prejudica a maioria dos passageiros que dependem deste serviço.
Em breve, talvez o Ministério tenha de mudar o nome para “Ministério da Propaganda, Infraestruturas e Habitação”.